quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

GOTÍCULA


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Na utopia do amor
Os caminhos da vida
Tornam-se floridos.
E os amantes são
Levados ao jardim
Das ilusões.


Jayme Salema / 1987

ANTIÉTICO


Terra de ninguém
É o teu nome !

És considerado assim,
Por não te adaptares
À sinceridade !

Queres saber ?

Teu solo é fértil, mas o
Plantio em ti não
Germina o fruto da
Decência !

Ervas daninhas
Cospes constantemente
Do teu interior :

- Maldades em todos os
Sentidos !

Pérfido coração !

Falta-te a adubagem do
Amor !


Jayme Salema / 1986

O BELO E A FERA


Dentes à vista,
Sorrisos oblíquos.

Nos ombros,
Um palco repleto de
Bailarinas, com
Vestes de tecido-espuma,
Que dançam ao som de
Seu frêmito.

Seus teares mitológicos
Tecem rendas brancas e,
Num vaivém sem cessar,
Às oferecem a amada de
Curvas longas.

O poeta extasiado
Com o show aquático,
Ainda assim, alerta :

- Cuidado com sua ira !

Ao avançar sobre sua loura, sua morena, ...
Sua cólera espuma imensamente !

Às vezes açoita a tudo e a todos.
Abrindo sua boca-cinza, cheia de
Saliva, nada fica por engulir :

- Titanic, Aves de aço ...


Jayme Salema / 2000

O TEMPO E SUAS ENGRENAGENS


Que porta a usar
Para adentrar-se
No seu espaço ?

Há tempo para tudo.
Agora ele parece
Um casulo, todo fechado !

Cavalga nas sombras,
Usando as camadas
Do silêncio ...

Ainda bem que é possível
Transferir a matéria dele
Em memória.

Senão,
Ele não passaria de um
Infante.
Ou seria um confete :
Um mínimo colorido de
Saudade !

E de que forma as estapas
Da vida se desenvolveria;
Se é ele quem planta espaços
Na alma ?

Seu rosto não é explícito,
Mas ele está sempre
Presente.

Às vezes através de uma
Alegria mentirosa.
Outras vezes em um fiandeiro
Tecendo (in)felicidade :

Momento de pedra,
Momento de amor.

É um verdadeiro espaço
Indefinível !

Transporta entre as saudades
Amareladas :

Mistério
Destruição
Dores
Gemidos
Amor
Prazer
Abraços
Beijos
Melodias
Poesias ...

Dizem que ele é o melhor
Remédio,

Será ?!

Qual a forma para
Definí-lo ?

- Estou tentando nas letras
Deste poema !


Jayme Salema / 2005

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O ÓBVIO


Algemados
Às engrenagens
Das sombras.

Nenhum resíduo
Reflete do planalto
Cinza-branco.

Pré-intelectual
Pré-verbal
Pré-natal

Em que momento
Eles saem dos labirintos,
Das raízes genéticas,
E se unem nos ombros
Da amiga ?

Contração labial,
Soluços de letras.

A boca do tempo se abre.
Morre o silêncio.
Nasce o som ainda sem
Critério.

Os pensamentos engatinham
E se exteriorizam em
Palavras que se tropeçam
Desfazendo, assim , o silêncio
Que é transformado em :
Mamãe !... Papai !...


Jayme Salema / 1999

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

ELEGIA À CIDADE


Ah, Cidade !
O mal espalhou-se pelo teu corpo !

Criando em ti, que és bela entre
As meis belas, uma torrente de
Aflição que corre no teu leito
( Até quando ?!), desaguando no mar
Das grandes dores.

No anfiteatro sombrio, a lua, quando
Num símile de balança, parece pesar
As iniquidades e os sofrimentos de
Teus filhos. Tua história esvaziou-se
Dos teus encantos-mil. Paraste de
Pulsar no peito dos que te amavam e
Invejavam tua formosura maravilhosa.

Teus afluentes acolhem os muitos
Desajustados das vidas mortas, que
Descem e saem dos montes e cubículos
Dos enganos.

O perigo, envolto em mortalhas, com
Mãos revestidas de sombras, espreita
Suas vítimas a bordo das tuas entranhas.

Sob as pálpebras da noite o medo, trêmulo,
Navega no RIO da morte !

Dormir ?

Sonhar ?

Como ?!


Jayme Salema / 1996

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

TRIBUTO


Senhora, parte de minha vida.

Interessa-me dizer-te que não
És somente a mãe dos meus filhos.
Entendeste, mamãe ?

Levaste meu nome para que eu
Possa sempre ser levado à bordo
Do teu coração, por onde fores,
Pelas viagens da vida.

Vejo em ti - amada - o perfume
Da sinceridade do amor, da
Compreensão ... adjetivos que
Enobrecem e enfeitam o jardim
Da tua alma.

Inversão de valores, na nossa
Caminhada conjugal, não existe.
Porque foi planejada pelo Nosso
Senhor Jesus Cristo.

Ah, minha amada esposa-mãe !
Como é bom pensar com os teus
Pensamentos e andar com os teus
Pés !

Oh ! Como sou feliz !...


Jayme Salema / 1987



Poema à minha esposa Sylvia.
Dia das mães / 1987

O POETA - ÀS VEZES - É UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL.


Éramos sombras Um do outro.
Sombras que se
Falavam e se
Amavam.
Mas calamo-nos,
Afastamo-nos ...

A saudade determina :

- Por que trocar pelo
Esquecer o não lembrar
Se há alguém que faz pedra
Se deitar pedra e se despertar
Como uma flor ?

Lembro-me que teus olhos
Ambíguos, às vezes eram
Análogos à duas fornalhas,
Desafiando-me a vir quente ...
Outras vezes, porém, eram
Símiles dum lago calmo
Convidando-me a navegá-los !

Ah, poeta !...
Ainda bem que existes :
Exoneras as leis da
Incompreensão através de
Instrumentos leves e sem
Corpos que nascem no delta
Dos pensamentos, abres rios
Entre às letras, embarcas as
Palavras nas balsas da metáfora,
Fazes nascer uma luz no fim do
Túnel e tudo torna-se viável.


Abre-se, então, a porta
E as possibilidades que estão
Lá fora, entram. E voamos
Com asas de poesia a procurar,
Novamente, o belo que é o
Reentrelaçamento de nosso
Amor.


Jayme Salema / 2000